
A dor de perder um filho é pessoal e intransferível. Espécie de senha secreta
e dilacerante, ela só funciona dentro dos corações de um pai e de uma mãe. Desde
o último dia 17 de junho, o servidor público Hélio de Aquino Noleto e a
secretária Márcia Cristina Noleto estão à mercê da insuportável combinação:
saudade, tristeza, lembranças. Mariana Noleto, de 20 anos, filha do casal e
namorada de Marco Antônio Cabral, filho do governador Sérgio Cabral, foi uma das
sete vítimas do acidente de helicóptero no Sul da Bahia. Só o sorriso da menina,
descrita pelos amigos como uma aluna aplicada no estudo e cheia de amor pela
vida, permanecerá com Hélio e Márcia. Em entrevista exclusiva ao EXTRA, o pai de
Mariana lembrou a beleza exterior e interior da filha e, como "pai, cidadão e
contribuinte brasileiro", como ele mesmo se descreveu, compartilhou sua dor e
sua reivindicação: saber exatamente como sua filha morreu.
— Tenho o direito de saber como minha filha morreu. Nenhuma autoridade
procurou a mim ou à minha mulher para dizer o que houve ou para, pelo menos,
mostrar que tomariam uma atitude — desabafa Hélio.
Hélio critica a fiscalização deficiente da Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac) e a irresponsabilidade das autoridades aeronáuticas que permitiram aquele
voo. Numa noite chuvosa e sem visibilidade, o helicóptero Esquilo foi comandado
por um piloto cuja autorização para voar estava vencida, o empresário Marcelo
Mattoso de Almeida — que também morreu no acidente. Hélio acredita que a falta
de uma fiscalização eficaz tenha contribuído para a fatalidade.
— Minha filha sempre foi um exemplo de menina. Tinha caráter e prazer de
viver. Como pai, eu tinha muito orgulho de, além de reconhecer seu caráter e sua
dignidade, também ter podido investir na educação dela. Ela tinha um futuro
lindo pela frente — recorda-se, na inabalável corujice de um pai amoroso.

“Ele morreu”
Hélio não culpa o piloto. Diz acreditar que foi um acidente de fato e sabe
que Marcelo foi, em última análise, vítima da mesma forma que Mariana:
— Acredito que ele tenha superestimado sua habilidade de piloto e foi relapso
com a condução do voo como um todo. Mas não o culpo. Ele morreu.
Hélio explica que o irmão de Mariana, João Pedro Noleto, de 14 anos, e a
faixa etária do casal — ele e Márcia nem chegaram aos 50 anos — são imperiosos:
os dois sabem que ainda têm uma vida pela frente.
— Preciso viver meu luto. Perdi a coisa mais importante da minha vida. Não
estou inerte, não estou conformado. Mas preciso sobreviver — esperança-se, numa
estranha mistura de luto e fé na vida.
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