Patriota não acredita em represália do novo governo líbio contra o País

Marina Guimarães
BUENOS AIRES - O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, não acredita em
hipótese de represália de parte de um novo governo líbio contra o Brasil e
afirmou ontem (25), que o Itamaraty aguardará um posicionamento mais
sólido da Organização das Nações Unidas (ONU) para definir sua postura quanto ao
reconhecimento dos rebeldes como governantes legítimos da Líbia.
A tranquilidade de Patriota sobre uma improvável retaliação da Líbia se
baseia nas preocupações que o Itamaraty manifestou com o povo líbio, embora o
País tenha mantido relações estreitas com o regime de Muamar Kadafi. "O Brasil
se distinguiu ao longo de todo esse processo com uma preocupação muito grande de
se posicionar do lado da população líbia. A preocupação que manifestamos era com
a utilização de uma autorização do Conselho de Segurança de proteção à população
civil que gerasse violência adicional à violência", argumentou o ministro das
Relações Exteriores.
Ao ser indagado sobre a ideia do governo francês de fazer uma reunião de
"amigos da Líbia" para discutir o pós-Kadafi, o chanceler respondeu que "o
Brasil se considera mais amigo da Líbia que muitos outros países". "Não
utilizamos armas contra qualquer líbio em momento algum", disse ele em
referência às tropas aliadas (Estados Unidos, Reino Unido e França) enviadas à
Líbia para conter a rebelião que matou centenas de civis nos últimos meses.
"No parágrafo operativo que autorizou a proteção civil falava-se em
cessar-fogo, e na nossa visão, esforços adicionais deveriam ter sido usados para
negociar o cessar-fogo há muito tempo atrás", criticou Patriota. "O que nós
queríamos era o fim da violência (...) Então deploramos, lamentamos e condenamos
a violência na Líbia, que afetou a população civil de forma indiscriminada e
continua a afetar".
Ao lado da ONU
O chanceler brasileiro afirmou que não há uma pacificação do país e que "o
Brasil se posicionou do lado das Nações Unidas, do lado da legalidade, do
respeito às decisões do Conselho de Segurança, na letra e no espírito com que
foram adotadas para proteção da sociedade civil, e não para colocar regime 'A',
'B' ou 'C' no poder". Ele reafirmou que o Brasil manteve contato com os rebeldes
em Benghazi, e que está acompanhando de perto a situação para ver como
evolui.
O chanceler ainda chamou a atenção para a importância de não se cometer, na
Líbia, erros que foram cometidos em outros lugares como Iraque. "Por mais
frágeis que sejam as instituições na Líbia, desmantelar completamente a
burocracia existente provoca o risco de aumentar a imprevisibilidade, a
insegurança, em uma fase que se inicia e que será muito delicada porque existem
muitas armas no país, inclusive armas de destruição em massa, armas químicas",
afirmou.
Ainda sobre a questão do reconhecimento dos rebeldes, Patriota afirmou que a
decisão de aguardar para se posicionar está de acordo com os outros países que
formam o grupo dos Bric (Rússia, China e Índia). O quarteto deve participar, em
1º de setembro, de uma reunião sobre o futuro da Líbia.
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