Relatório será entregue ao Ministério Público para forçar
prefeituras a tomar providências
Sérgio Vieira

Crea-RJ afirma que Campo Grande, em
Teresópolis, está abandonada pelo Poder Público
O relatório preliminar do Crea-RJ (Conselho Regional de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro) sobre a inspeção das áreas atingidas
na tragédia das chuvas de janeiro nas cidades de Teresópolis e Nova Friburgo, na
região serrana do Estado do Rio de Janeiro, revela que nenhuma grande
providência foi tomada para evitar que novos deslizamentos em áreas de risco
ocorram se houver chuvas intensas, que devem ocorrer já a partir de outubro de
2011.
Pior, o documento indica
ainda que novas tragédias como a ocorrida é apenas uma questão de outro
temporal, já que todos os outros elementos que contribuíram para o evento ainda
estão presentes, devido ao descaso do poder público.
Uma equipe do
Conselho Regional esteve na região onde morreram 900 pessoas e constatou que
várias construções destruídas pelas enchentes estavam localizadas dentro do
leito maior dos rios, ou seja, estavam em áreas em que naturalmente ocorrem
transbordamentos por conta da vazão da água nos períodos mais chuvosos.
O presidente do Crea-RJ, Agostinho Guerreiro, afirmou que já na ocasião
das chuvas que causou a tragédia de Angra, um relatório do instituto já mostrava
que se ocorressem temporais de grande magnitude na região serrana a
possibilidade de ocorrer uma tragédia era grande.
De acordo com a inspeção nesses
municípios, as enchentes e os deslizamentos deixaram o terreno instável, o que
potencializa a probabilidade de uma nova tragédia. Além disso, as incursões
mostraram que boa parte de população local está voltando a morar nas mesmas
áreas de risco, inclusive reconstruindo novamente suas casas.
- Este
relatório é uma apelo ao poder público para que tomem medidas emergenciais
pensando nas chuvas que vão recomeçar dentro de dois ou três meses, já em
outubro ou novembro.
Segundo Guerreiro, como nenhum medida de
efetivo alcance foi tomada, é preciso que algumas providências sejam adotadas
para minimizar as ocorrências no próximo “período das águas” ( que vai de
outubro a março).
O documento aponta, primeiramente, a necessidade de
implantação de sirenes nas principais regiões afetadas na tragédia onde há
ocupação humana.
A segunda é que seja
providenciada, urgentemente, junto ao Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) e outros órgãos que realizam monitoramento meteorológico, a
implantação de um sistema de aviso prévio a todas as prefeituras que foram
afetadas na ocasião. O objetivo é que se possa dar o aviso sobre a chegada de
algum evento extremo com pelo menos algumas horas de antecedência.
Por
sua vez, a terceira providência é que seja planejada, para os próximos dois
meses, a criação de abrigos nas áreas de risco citadas, localizadas em áreas
adequadas para transferir a população das regiões de risco para áreas seguras e
com infra-estrutura para receber provisoriamente a população, caso seja
necessário saírem de suas casas.
O presidente do Crea, vai entregar o
relatório para o Ministério Público Estadual com a intenção de que a instituição
entre com uma ação para forçar as prefeituras a providenciar medidas que
minimizem os impactos no caso de fortes chuvas.
- Após seis meses da
tragédia, os problemas não foram minimamente resolvidos e o período de seca está
terminando. Esse relatório é um alerta para que as autoridades prestem atenção e
providenciem medidas dentro dos próximo dois ou três meses para evitar que a
quantidade de mortes como a de janeiro ocorram na mesma magnitude. O Japão, por
exemplo, reconstruiu todas as suas estradas em apenas seis dias após o tsunami.
Aqui na região serrana, já se passaram quase seis meses e nada foi feito.
O Crea-RJ apontou ainda que quase todos os pontos onde houve
deslizamentos ou enchentes ainda apresentam algum tipo de fragilidade ou
instabilidade. Além disso, o órgão conclui que os problemas generalizados,
principalmente de ordem política, influenciaram bastante para que poucas ações
tenham sido feitas e os trabalhos de prevenção não tenham saído do papel.
- Se nós quisermos salvar vidas, nós teremos que pedir às autoridades
que façam uma combinação de prevenção com investimentos a longo prazo. Até
quando nós vamos ter essa tolerância com o descaso com a vida das pessoas? Há
uma negligência no Brasil com a vida humana e um desprezo pelo planejamento.
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