Sílvio Guedes Crespo
O “Financial Times” dia sim diz que a economia brasileira é um
“sucesso”,
dia não afirma que há uma “bolha
em formação” no País. A impressão que passa é de um jornal
contraditório consigo mesmo ou, no mínimo, instável. Mas é uma impressão
falsa.
A ideia geral que aparece em todos esses textos – considerando editoriais e
reportagens, não artigos assinados – é uma só: a de que o País trilhou uma
trajetória econômica de sucesso e se vê hoje em um ponto decisivo, um momento em
que saberemos se a evolução observada nos últimos anos veio para ficar ou
não.
Esse ponto de vista, por sinal, é o mesmo na maior parte da imprensa
internacional. Do progressista francês “Libération” ao conservador americano
“The Wall Street Journal”, momentos de entusiasmos e críticas se alternam, mas
normalmente sem contradições.
O “Libération”, em setembro do ano passado, colocou uma foto do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva na capa de uma revista especial intitulada “Os
rostos do novo Brasil”. Na mesma reportagem, dizia que Lula “deixou
a desejar” em questões como saúde e educação públicas.
O “Journal”, também em 2010, publicou caderno especial com o título:
“Para
o Brasil, o amanhã chegou”; dias depois, uma de suas principais
colunistas afirmou: “Freie
o entusiasmo com o Brasil”.
Há vários casos similares de alternância entre entusiasmo e críticas. Em
comum, todos eles acreditam, e não negam, que “o Brasil decola”, como afirmou a
revista britânica “The Economist” em capa ainda de 2009. Mas todos eles observam
indicadores desfavoráveis ou pelo menos ameaçadores. Desde problemas históricos,
como os custos para as empresas e a falta de infraestrutura, até temas do
momento, como as pressões inflacionárias e as medidas para esfriar a entrada de
capital estrangeiro.
O “Financial Times” é o jornal que melhor espelha o aumento do interesse da
imprensa internacional pelo Brasil. Entre os grandes jornais do mundo, é o que
mais publica reportagens sobre o País, segundo uma pesquisa
da Imagem Corporativa, à frente inclusive do argentino “Clarín”. Além disso,
o “FT” mantém o blog BeyondBrics, com informações sobre países emergentes,
lançou neste ano a revista Brazil Confidential, focada no País, e o site Tilt,
também a respeito de mercados em desenvolvimento.
É normal, portanto, que o “FT” pareça o mais contraditório dos jornais
estrangeiros. É fato que o que se publica no exterior nem sempre coincide do que
sai por aqui. Mais uma coisa em comum entre os veículos citados acima: todos
eles atribuem aos dois últimos ex-presidentes, e não apenas a um deles, a
responsabilidade pela atual fase que a economia do País vive.
Comentários