Capa de uma revista semanal de grande circulação no país, neste fim de
semana, o ex-ministro José Dirceu deverá ingressar com uma ação judicial
contra a editora da publicação, ligada a grupos de ultradireita no Brasil e no
exterior, por crime contra os direitos individuais do cidadão. Dirceu
afirma que, “depois de abandonar todos os critérios jornalísticos, a revista
Veja, por meio de um de seus repórteres, também abriu mão da
legalidade”.
– Houve a prática de um crime, no momento em que ele (o repórter Gustavo
Nogueira Ribeiro) tentou invadir o apartamento no qual costumeiramente me
hospedo em um hotel de Brasília – afirmou Dirceu ao Correio do
Brasil.
Segundo o ministro, a publicação iniciou um “verdadeiro ardil” nesta
quarta-feira, quando o jornalista Gustavo Ribeiro se registrou na suíte 1607 do
Hotel Nahoum, ao lado do quarto em que normalmente se hospeda.
– Uma vez alojado no hotel, sentiu-se à vontade para planejar seu próximo
passo. Aproximou-se de uma camareira e, alegando estar hospedado no meu
apartamento, simulou que havia perdido as chaves e pediu que a funcionária
abrisse a porta. O repórter não contava, porém, com a presteza da camareira, que
não só resistiu às pressões como, imediatamente, informou à direção do hotel
sobre a tentativa de invasão. Desmascarado, o infrator saiu às pressas do
estabelecimento, sem fazer check out e dando calote na diária devida,
ainda por cima. O hotel registrou a tentativa de violação de domicílio em
boletim de ocorrência no 5º Distrito Policial – disse.
Nova tentativa
Ainda na tentativa de seguir os passos do ex-ministro-chefe da Casa Civil, no
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o repórter se fez passar por
assessor da Prefeitura de Varginha junto à administração do hotel, e insistia em
em deixar no quarto “documentos relevantes”, relata Dirceu.
– Disse que se chamava Roberto, mas utilizou o mesmo número de celular que
constava da ficha de entrada que preencheu com seu verdadeiro nome. O golpe não
funcionou porque minha assessoria estranhou o contato e não recebeu os tais
“documentos” – acrescentou.
De acordo com o ex-ministro, “os procedimentos de Veja se assemelham
ao escândalo recentemente denunciado na Inglaterra, do tablóide News of the
World“.
– O diário inglês tinha como prática para apuração de notícias fazer escutas
telefônicas ilegais. O jornal acabou fechado, seus proprietários respondem a
processo, jornalistas foram demitidos e presos – lembrou.
O ex-deputado petista e líder guerrilheiro contra a ditadura militar, durante
os Anos de Chumbo, viu-se novamente diante da prática utilizada por
agentes da repressão enquanto um outro repórter da mesma revista, Daniel
Pereira, buscava invadir sua privacidade, já no dia seguinte, após a publicação
obter, de maneira a ser explicada no curso do processo-crime, as imagens de
personalidades do mundo político e empresarial recebidos por ele, em trânsito
pelo hotel.
– No meio da tarde da quinta-feira, depois de toda a movimentação criminosa
do repórter Ribeiro para invadir meu apartamento, foi a vez de outro repórter da
revista entrar em contato com minha assessoria, com o argumento de estar
apurando informações para uma reportagem sobre minhas atividades em Brasília –
pontuou.
Invasão de privacidade
“O jornalista Daniel Pereira se achou no direito de invadir minha privacidade
e meu direito de encontrar com quem quiser e, com a pauta pronta e manipulada,
encaminhou perguntas por e-mail já em forma de respostas para praticar, mais uma
vez, o antijornalismo e criar um factóide”, escreveu nesta sexta-feira, em seu
blog, o ex-ministro. As perguntas enviadas pela revista foram:
“1 – Quando está em Brasília, o ex-ministro José Dirceu recebe agentes
públicos – ministros, parlamentares, dirigentes de estatais – num hotel. Sobre o
que conversam? Demandas empresariais? Votações no Congresso? Articulações
políticas?
“2 – Geralmente, de quem parte o convite para o encontro – do ex-ministro ou
dos interlocutores?
“3 – Com quais ministros do governo Dilma o ex-ministro José Dirceu conversou
de forma reservada no hotel? Qual o assunto da conversa?”
Farsa
Diante da movimentação constatada ao longo da semana, o ex-ministro soube
também, por diversas fontes, “que outras pessoas ligadas ao PT e ao governo
foram procuradas e questionadas sobre suas relações comigo. Está evidente a
preparação de uma farsa, incluindo recurso à ilegalidade, para novo ataque da
revista contra minha honra e meus direitos”, disse.
– Deixei o governo, não sou mais parlamentar. Sou cidadão brasileiro,
militante político e dirigente partidário. Essas atribuições me concedem o dever
e a legitimidade de receber companheiros e amigos, ocupem ou não cargos
públicos, onde quer que seja, sem precisar dar satisfações à Veja acerca de
minhas atividades. Essa revista notoriamente se transformou em um antro de
práticas antidemocráticas, a serviço das forças conservadoras mais venais –
concluiu.
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