
No domingo, algumas horas após Bento XVI anunciar, em Madri, a escolha do Rio
como a sede da próxima edição da Jornada, o presidente da Liga Independente das
Escolas de Samba do Rio (Liesa), Jorge Castanheira, estava numa igreja em
Botafogo. No fim da missa, Jorge recebeu da boca do padre Marcos William,
vigário episcopal de Comunicação Social da Arquidiocese, a confirmação da
vontade acalentada pelo arcebispo dom Orani João Tempesta.
O Papa Bento XVI presidiu neste sábado uma missa para cerca de cinco mil seminaristas de vários países, na Catedral de Santa Maria a Real de Almudena, no terceiro dia de sua viagem à Madri, na Espanha Foto: Reuters
— Se acontecer realmente, vamos respeitar os dogmas da Igreja. Não é preciso
colocar passistas de biquíni. O mais certo seria colocarmos um grupo
representativo, como as Velhas Guardas, e crianças das escolas mirins — diz
Castanheira, fugindo das polêmicas, como a de 1989, quando a Igreja e a
Beija-Flor brigaram por causa da imagem de Cristo como se mendigo no
abre-alas.
— Na época, a mídia veio toda atrás da gente. Fiz o Fantástico duas vezes —
festeja Marco Antônio, ansioso por encontrar novamente um Papa.
Ilha sai na frente
Ainda haverá muita discussão até que as agremiações sejam escolhidas. Mas o
assédio à Arquidiocese já começou. Presidida por Ney Filardi, um católico
fervoroso, a União da Ilha do Governador saiu na frente. Na última sexta-feira,
antes da escolha da cidade, Ney mandou um e-mail a dom Orani pedindo em nome da
sua comunidade.
— O Papa pode até ser alemão, mas ninguém resiste ao som da bateria da União
da Ilha. Ele vai ficar mexendo os pezinhos e as mãozinhas — brincou Ney, cujo
assessor, pediu, ontem, às 18h, para a reportagem ligar para o presidente cinco
minutos depois porque ele estava rezando.
Grandes nomes
Porta-bandeira da Beija-Flor, Selminha Sorriso já sentiu na pele os ranços
entre a religião e o carnaval.
— Já dancei até de fraldão nos Emirados Árabes. No meio da apresentação,
interromperam o show e colocaram os panos em cima da gente, mas deu tudo certo —
relembra.
Baluarte da Portela, Monarco comemora a conciliação entre Igreja e samba:
— Nós sambistas já fomos recebidos como marginais. Mas, hoje, se o samba é
patrimônio cultural e frequenta até o Theatro Municipal, você acha que o Papa
não vai gostar?
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