
O tema em questão é samba de roda. Do tipo que finca raízes no chão do terreiro e brota na ponta da língua do partideiro. Simples assim, de forma espontânea, nasce ao redor da mesa da casa dos bambas. As mesmas onde hoje sentam herdeiros que, noite e dia, são os guardiões da real melodia.
Bruno Cunha
Entre eles está Nilcemar Nogueira, a idealizadora do Centro Cultural Cartola,
um dos fundadores da Mangueira. Neta do mestre, ela está prestes a abrir a
cerveja na mesa para brindar, no dia 3 de setembro, das 16h às 22h, a volta do
"Encontro de Bambas", um samba mensal que promove no templo.
— O movimento dos sambistas tradicionais não é saudosista. Entendemos que há
modificações no samba, mas não aceitamos a perda da essência. Cartola sempre
dizia aos outros: "A minha música eu faço para você sentir e não apenas para
guardar em uma coleção de discos" — diz Nilcemar.
O encontro, interrompido em outubro para a troca do telhado do imóvel, ela
explica, ocorre nos mesmos moldes dos almoços promovidos por Dona Zica na casa
de Cartola, ou seja, com direito a música e a festival de comidas baianas. E com
a presença de baluartes de outras escolas, é claro, que, a partir de agora,
sentirão a ginga do grupo "Precisão", onde canta Márcia Moura, filha de Jorge
Zacharias e neta de Xangô da Mangueira.
— Estão devidamente ensaiados? Que assim seja, amém — emenda Nelson Sargento,
automaticamente, ao ouvir um sim.
Ao deixar a mesa onde participava dessa entrevista com outros baluartes, ele
lembra:
— O samba agoniza mas não morre.
Na Toca do Rato
O pandeiro também voltou a esquentar em Todos os Santos. Lá mesmo, na Toca do
Rato, um lugar cheio de encantos onde o samba é preservado por Denise Correia,
de 52 anos, a viúva do saudoso Alcino Correia, o Ratinho. Autor de nada menos do
que "Parabéns pra você", "Vai vadiar", "Coração em desalinho", "Loucuras de uma
paixão", e por aí vai, ele morreu em outubro, vítima de um AVC, calando o cavaco
e a viola, que voltaram a chorar no local há quatro meses.
Ratinho está vivo. Quem duvida que vá à Toca do Rato no segundo sábado de
cada mês, quando acontece a roda de samba. Basta entrar para sentir a presença
dele diante do chapéu panamá branco na parede, do cavaquinho inseparável, do
copo de uísque em cima da mesa.
— Quando compramos essa casa ele disse que faria uma castelo para mim. E fez.
Aqui é um quintal mágico — diz Denise, enxugando a saudade nos olhos.
Quem não deixa o samba morrer em Madureira é Jalmir Costa, de 43 anos, o Nem,
filho da saudosa portelense Tia Doca. Ele comanda o Centro Cultural Tia Doca
desde que ela faleceu, há três anos, vítima de um enfarte fulminante.
— Hoje me sinto herdeiro do samba com orgulho.
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