Tribunal de Justiça ignorou ameaças, subestimou risco e
informações de que policiais não eram confiáveis para serviço de escolta; PM
permitiu a formação de uma quadrilha dentro dos batalhões
João Marcello Erthal e Cecília Ritto

A juíza foi fuzilada porque fazia seu trabalho. O desfecho do caso prova, por
enquanto, que o Tribunal de Justiça estava errado: negou
segurança a uma juíza ameaçada e avaliou que ela não corria
perigo. Ignorou também o fato – provado por ela – de que homens encarregados de
sua segurança tinham envolvimento com criminosos. Paralelamente a tudo isso, a
Polícia Militar, enquanto instituição, permitiu que uma quadrilha se formasse
dentro de seus muros, progredindo na hierarquia e atuando em grupos
especializados, com o Grupo de Ações Táticas (GAT), onde está a maioria dos
envolvidos na morte da magistrada.
A morte brutal de Patrícia Acioli
entra para a história com o prova irrefutável de que há algo grave a ser
revisto na forma como se gerencia a proteção de autoridades da linha de frente
do combate ao crime. O tenente-coronel Claudio Luiz Silva de Oliveira, que
comandava o 7º Batalhão da PM fluminense, em São Gonçalo, por enquanto é só um
suspeito, e está em prisão temporária de 15 dias. Se comprovada sua culpa, o
resumo da ópera será: a juíza morreu por ordem da autoridade máxima da Polícia Militar
do município em que atuava, no momento em que tinha sobre sua mesa o caso de
uma execução da qual, deduz-se, participou o oficial.
Oliveira particiou da operação que resultou na morte de Diego de Souza Beliene
– apresentada oficialmente como auto de resistência, quando os policiais atiram
para se defender. Ao invés da presença do comandante na ação ser garantia de
que não haveria abusos, resultou em uma brutalidade ainda maior, pois os
assassinos resolveram atentar contra a Justiça para se manterem na impunidade.
A hierarquia e a disciplina militares são poderosas contra o desvio: um
policial pode ser mandado para a prisão no quartel por seu superior,
imediatamente, até mesmo se o comando considerar que ele não cortou o cabelo ou
está com a barba por fazer. No entanto, sempre há benevolência com os oficiais
– e são raros os casos de coronéis presos ou afastados por desvios.
O caso do tenente-coronel Oliveira não foge à regra: diante dos sinais de que
algo estava errado no 7º BPM (São Gonçalo), ele foi transferido, mas recebeu
outro comando, tão ou mais importante do que a unidade que chefiava. Passou,
então, a comandar o 22º BPM (Maré), encravado em uma área tensa, à beira da
Linha Vermelha, porta de entrada do Rio de Janeiro. Lá, operou outro equívoco
grave: diante da presença de bandidos, em vez de reforçar a segurança da
população optou por defender o fechamento de uma Unidade de Pronto Atendimento
(UPA), por considerar que não havia segurança para o funcionamento da única
unidade de saúde de que dispõe aquela população. A Secretaria de Saúde do
Estado, diante da lambança, anunciou nesta terça-feira que a UPA será reaberta
na quarta-feira.
Cerveja roubada - Oliveira
era subcomandante do 3º BPM (Méier) em 2008, quando a unidade foi vergonha
nacional. Um grupo de policiais foi fotografado no momento em que colocava
engradados de cerveja de um caminhão no porta-malas da viatura. Um dos
policiais era o cabo Daniel dos Santos Benitez Lopes. Beintez, agora, é um dos
presos sob acusação de executar Patrícia
Acioli, e foi levado de batalhão em batalhão pelo próprio tenente-coronal agora
apontando como mandante do crime. Uma canhestra amizade.
Oliveira, no momento em que a investigação ainda estava longe – ou não tão
perto – de sua participação no caso, chegou a dizer que tinha boa relação com Patrícia . “Ela chegou a telefonar para meu número
pessoal, solicitando ajuda em um episódio, e não foi necessária movimentação
oficial para atender ao pedido da juíza. Atuávamos em parceria”, afirmou o oficial.
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