New York
Times News Service

New Iberia, Louisiana - Em uma jaula ao ar livre em forma de
cúpula, dezenas de chimpanzés gritam. Os pelos das costas estão levantados.
Segundo a Dra. Dana Hasselschwert, chefe de ciências veterinárias do Centro de
Pesquisas de New Iberia,
"Isso é piloereção", um sinal de excitação emocional.
Ela pede aos visitantes que mantenham distância. Os
chimpanzés costumam atirar pequenas pedras ou objetos mais perigosos quando
ficam agitados.
A semelhança dos chimpanzés com os humanos os torna
importantes para pesquisas, mas também gera muita solidariedade. Para os
pesquisadores, esses animais podem significar a melhor chance de descobrir a
cura de doenças atrozes. Para muitas pessoas, porém, eles são nossos parentes
atrás das grades.
A pesquisa biomédica com chimpanzés ajudou a produzir a
vacina contra a hepatite B e tem por objetivo produzir a vacina contra a
hepatite C, que infecta 170 milhões de pessoas em todo o mundo. Contudo, há
muito que os protestos contra essa pesquisa consideram-na cruel e
desnecessária.
Só dois países pesquisam com chimpanzés
Devido à grande pressão atual de organizações de defesa dos
animais, a decisão judicial que porá um fim a este tipo de pesquisa nos Estados
Unidos pode vir em
um ano. Atualmente , apenas os Estados Unidos e outro país
conduzem pesquisas invasivas com chimpanzés. O outro país é o Gabão, que fica
na África central.
Segundo Wayne Pacelle, presidente e diretor executivo da
Sociedade Humanitária dos Estados Unidos, "este é um momento bastante
diferente dos outros". "É o momento de tirar os chimpanzés da
pesquisa invasiva e dos laboratórios", afirma.
John VandeBerg, diretor do Centro Nacional de Pesquisa sobre
os primatas do sudoeste, concorda que este é "um momento crucial". O
centro é um dos seis laboratórios do país onde há chimpanzés. As diversas
tentativas dos opositores "podem levar ao fim de toda a pesquisa médica
com os chimpanzés", afirmou.
A sociedade e outros grupos pressionaram os NIH (Institutos
Nacionais da Saúde) americanos para que fosse elaborado um relatório sobre a
utilidade da pesquisa com chimpanzés, aguardado para este ano. A Sociedade
Humanitária também se uniu ao Instituto Jane Goodall e à Sociedade para a
Conservação da Vida Selvagem para elaborar uma petição ao Serviço de Fauna e
Peixes dos Estados Unidos, na qual é declarado o risco de extinção dos
chimpanzés em cativeiro, uma vez que os que vivem na natureza já estão
ameaçados, oferecendo a eles mais proteção. A decisão é aguardada para setembro
do ano que vêm.
Gastos com pesquisa são de US$ 30 milhões
Além disso, o Great
Ape Protection and Cost Savings Act (Lei
pela proteção e redução de custos com grandes símios) irá proibir o uso de
todos os grandes símios nas pesquisas invasivas (incluindo bonobos, gorilas e
orangotangos). O republicano Roscoe Bartlett, deputado pelo estado de Maryland,
é um dos apoiadores da lei. Segundo Bartlett, a lei representará uma economia
de US$ 30 milhões para o contribuinte, quantia que é gasta anualmente com os
chimpanzés de propriedade do governo.
Segundo Pacelle, é alto o custo da pesquisa invasiva com
chimpanzés, sendo que existem alternativas. Além disso, os procedimentos
realizados são dolorosos e os animais são mantidos em isolamento, afirma.
"Esta espécie está ameaçada de extinção e é a mais próxima
dos humanos geneticamente", afirma. "Além disso, não devemos abusar
de nosso poder", afirma.
Mas como fica o desenvolvimento de medicamentos?
VandeBerg, em contrapartida, afirma que suspender as
pesquisas com chimpanzés representaria uma ameaça a vidas humanas.
"A redução do índice de desenvolvimento de medicamentos para essas doenças
significará a morte de centenas de milhares de pessoas, milhões de fato, devido
a anos de atraso", afirmou.
Se a pesquisa permite salvar vidas humanas, afirmou VandeBerg,
"seria totalmente antiético não realizá-la", afirmou VandeBerg.
Os laboratórios de pesquisa dos Estados Unidos abrigam mil
chimpanzés, e o Centro de Pesquisas de New Iberia é um deles. O centro pertence
à Universidade de Louisiana em Lafayette, e ocupa 40 hectares do centro
da Louisiana francesa ou acadiana, aproximadamente 210 quilômetros a
oeste de Nova Orleans. Nele vivem 360 chimpanzés, sendo que 240 pertencem à
universidade e 120 ao NIH, além de outros seis mil primatas, a maioria da
espécie macaco-rhesus.
Maus tratos aos animais
A instituição foi acusada de maus-tratos no passado, sendo
que foram descobertas e corrigidas algumas violações às normas de tratamento
dos animais, de acordo com as inspeções do Departamento de Agricultura. Na
última inspeção, ocorrida em julho, foram descobertos medicamentos para os
animais com prazos de validade vencidos.
Em uma visita recente, verificou-se que alguns chimpanzés
ficavam em cúpulas geodésicas de 10 metros de diâmetro e outros em jaulas
menores ao ar livre. Além destes, o doutor Thomas J. Rowell, diretor do centro,
contou que um número inferior a dez estava sob estudo ativo, em jaulas internas
medindo 1,5 por 1,8 metro
e 2,0 metros
de altura. Os procedimentos práticos envolviam aplicação de injeções, retirada
de amostras de sangue e biópsias hepáticas, as quais eram realizadas sob efeito
de anestésicos.
Muitos estudos têm duração de apenas alguns dias, afirmou
Rowell, mas alguns demoram mais tempo. Quase concluído, um estudo vinha sendo
realizado há quatro meses. Rowell defendeu com entusiasmo o tratamento
proporcionado aos chimpanzés no centro, enfatizando os cuidados veterinários e
o empenho em melhorar a forma como vivem, tornando os ambientes do alojamento
mais interessantes.
Histórico
Os chimpanzés são utilizados em pesquisas nos Estados
Unidos desde a década de 1920, quando Robert Yerkes,
professor de psicologia da Universidade de Yale, começou a leva-los para o
país. Durante a década de 1950,
a força aérea passou a reproduzi-los para o uso no
programa espacial, a partir de 65 espécimes capturados na natureza.
Os chimpanzés também foram procriados para serem usados em pesquisas da AIDS
nos anos 1980, que não obtiveram avanços. Em meados da década de 1970, o apoio
à preservação de espécies ameaçadas de extinção havia aumentado, e a importação
de chimpanzés retirados da natureza foi proibida. Nos anos 2000, foi aprovada
uma lei federal exigindo a aposentadoria dos chimpanzés pertencentes ao governo
após o fim de seu uso em experimentos. Foi inaugurado em Shreveport, na
Louisiana, o Chimp Haven, um santuário nacional de chimpanzés, para dar
assistência a esses a outros chimpanzés.
A tentativa de trazer de volta para a linha de pesquisa os
chimpanzés semiaposentados do santuário Alamogordo Primate Facility, no Novo
México, foi o que induziu em parte o recente aumento da oposição às pesquisas.
O NIH queria transferir cerca de 200 de seus chimpanzés do Alamogordo para o
centro de San Antonio, que pertence ao Instituto de Pesquisas Biomédicas do
Texas. A Sociedade Humanitária intercedeu para evitar a transferência e o NIH
cedeu, pedindo a realização de um relatório dos chimpanzés utilizados em
experiências este ano ao Instituto de Medicina, um conselho consultivo.
Paraíso para chimpanzés
O Chimp Haven é o potencial destino dos chimpanzés
aposentados e possui atualmente 132 deles vivendo em um bosque de pinheiros de 80 hectares . Eles ficam
alojados em uma variedade de jaulas e recintos cercados, incluindo um pátio de
recreação a céu aberto, com 4 mil metros quadrados e envolto em muros de
concreto, além de dois habitats de floresta, um de 16 e outro de 20 mil metros
quadrados, delimitados por um fosso e por cercas. Porém, os chimpanzés que
estão nos centros de pesquisa, talvez nem saiam dali, mesmo após o fim dos
experimentos. É possível que apenas fiquem ali, livres dos estudos invasivos.
Seja qual for a decisão, os pesquisadores e defensores dos
chimpanzés sabem que eles representam uma pequena parte do total da pesquisa
realizada com animais e do debate mais amplo.
Segundo Kathleen Conlee, diretora sênior para questões de
pesquisa animal da Sociedade Humanitária, a atual discussão em relação aos
chimpanzés indica o caminho para o futuro.
"Este tipo de análise rigorosa deveria ser aplicada a
toda a pesquisa com animais", afirmou.
Uol ciência
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