Setembro de 2010. Véspera do primeiro turno da eleição
presidencial. Num debate televisivo, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) investiu
contra Dilma Rousseff (PT).
Plínio esfregou na face de Dilma o escândalo Erenice Guerra.
“A corrupção bateu na sala ao lado”, fustigou. “De duas, uma: ou você é
conivente ou é incompetente.”
O presidenciável do PSOL foi à jugular: “Você vai ter que
escolher muita gente. Tem competência para escolher ou vai escolher outras
Erenices?”
Decorridos dez meses e meio, o governo de Dilma Rousseff
revelou-se uma usina de Erenices. Foram ao olho da rua seis ministros. Cinco
por suspeita de corrupção.
Antonio Palocci, Alfredo Nascimento, Wagner Rossi, Orlando
Silva, Pedro Novais... A sexta encrenca, Carlos Lupi, agoniza nas manchetes à
espera da guilhotina.
Dilma crispa o cenho. Faz boca de nojo. Chama os
trambiqueiros ao gabinete. Arma um banzé-de-cuia que arranca aplausos da classe
média incauta.
A história do Brasil ensina: ninguém paga pelo que foi, fez
e falou. O pedaço da imprensa que alisa Dilma, apelidando-a de faxineira, segue
a tradição.
Dilma não é inocente, eis o que se deseja realçar. Foi ela
quem nomeou o lixo. Com uma agravante: sabia o que estava fazendo. Ou deveria
saber.
Excetuando-se o octagenário Pedro Novais, um velho problema
novo, todos os demais ministros pilhados no contrapé vieram da gestão Lula.
Cabe perguntar: o que fazia Dilma no governo de seu patrono?
Era a chefona da Casa Civil, a gerentona geral, a coordenadora de tudo...
Pela mesa da ministra toda-poderosa de Lula passavam as
iniciativas e programas de governo com alguma relevância. Coordenava, reunia,
espinafrava, fazia e acontecia.
Pois bem. Por que diabos Dilma permitiu que o lixo conhecido
deslizasse tão suavemente para dentro da gestão dela? Por que não reciclou o continuísmo?
A frase do Plínio-2010, por premonitória, ainda ecoa: “De
duas, uma: ou você é conivente ou é incompetente.”
O petismo gosta de reclamar da mídia. Deveria agradecer de
joelhos. Se a imprensa não fosse tão compreensiva, perguntaria diariamente:
cumplicidade ou inépcia?
Parafraseando Plínio: ou Dilma estava deliberadamente
enganando o país quando converteu monturo em ministério ou estava sendo
enganada.
Em qualquer hipótese, o caso seria gravíssimo. Em outro
país, claro, não no Brasil.
No embate televisivo com Plínio, Dilma realçara: o
importante era investigar os desvios e punir os responsáveis.
Referindo-se ao caso de Erenice, a ex-braço direito que
virou ministra por sua indicação, Dilma dissera o seguinte:
“Eu queria te assegurar, Plínio, sem sombra de dúvidas: se
eu for eleita, assumir a
Presidência da República, e o governo não concluir [o caso], eu irei
investigá-lo até o fim.”
Faltam 43 dias para o aniversário de um ano da gestão Dilma.
O escândanlo Erenice sobrevive como caso inconcluso. E Dilma não moveu uma
palha. Está atarantada com outras "Erenices."
Ah, que país maravilhoso seria o Brasil se o brasileiro
perdesse a mania de deixar tudo pra lá e passasse cobrar pelos atos praticados
e as posições defendidas por seus poderosos!
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