Repressão do governo contra TVs e jornais fez a oposição
recorrer a rede para se expressar
Medvedev e Putin são os alvos favoritos das paródias e
críticas on-line
Moscou - As principais redes de televisão são controladas e
os poucos jornais independentes têm sua difusão limitada, assim a internet se
tornou o principal espaço de liberdade de expressão na Rússia.
Sites e blogs bombardeiam o poder com críticas ferozes na véspera das eleições
legislativas.
Sejam mensagens no Twitter zombando do presidente Dmitry
Medvedev ou uma paródia criativa do conhecido blogueiro anticorrupção Alexei
Navalni, a internet russa ecoa opiniões muito distantes da posição da imprensa
oficial.
Sites como a gazeta.ru, ligada ao jornal Kommersant,
representam o único meio, até mesmo nas regiões mais distantes, de obter
informações independentes.
No dia 20 de novembro, foi na internet que apareceu um vídeo
amador do primeiro-ministro Vladimir Putin sendo vaiado em uma arena de
esportes claramente hostil ao político.
Este incidente embaraçoso para o homem forte do país, a
menos de quatro meses da eleição presidencial, quando espera retornar ao
Kremlin, foi transmitido ao vivo na televisão, mas os canais camuflaram as
vaias durante os telejornais.
Em outubro, o clipe de uma música intitulada "Nosso
asilo de loucos vota Putin" virou hit e foi visto por milhares de pessoas.
Sobre alguns assuntos, como a impunidade mortal dos carros
oficiais nas estradas e a arbitrariedade das forças de ordem, a rede conseguiu
reunir milhares de pessoas que forçaram as autoridades reagirem.
Assim, quando um motociclista postou um vídeo do motorista
do ministro de Situações de Emergência ameaçando atirar na cabeça dele, a
notícia foi transmitida por órgãos oficiais e o motorista foi demitido.
O caso mais significativo foi o de Alexeï Navalni, um
carismático blogueiro anti-orrupção que caracterizou o partido de Putin, a
Rússia Unida, de "partido de escrotos e ladrões", uma fórmula que
impregnou o país.
A internet também é o meio para propagar slogans
nacionalistas e xenofóbos, refletindo sua popularidade na sociedade russa.
Em dezembro de 2010, depois da sequência de chamadas para
uma mobilização lançadas na web após a morte de um jovem torcedor de futebol em
uma briga com caucasianos, milhares de pessoas se reuniram em Moscou em um
evento que ocorreu a dois passos do Kremlin.
Se a Rússia demorou a embarcar na internet, tem recuperado o
tempo perdido rapidamente.
Segundo um estudo da comScore, em setembro o país se tornou
o primeiro na Europa neste domínio com aproximadamente 51 milhões de
internautas em uma população de 143 milhões.
Se a televisão pública continua a ser a principal fonte de
informação para 70% dos russos, de acordo com uma sondagem do instituto FOM, um
quarto da população já visita a internet.
As estratégias da comunicação pró-governo é combater o
inimigo no mesmo terreno.
Desta maneira, um vídeo foi postado em julho com garotas
seminuas convidando as mulheres russas a tirarem suas roupas em apoio a Vladimir Putin.
Em abril de 2010, líderes da oposição caíram na armadilha de
uma misteriosa "Kátia". As conversas de cunho sexual com a jovem
foram filmadas e postadas na internet.
Internautas invadiram recentemente sites da oposição e
plantaram mensagens pró-governo sem assinatura eletrônica.
O FSB (serviço federal de segurança, ex-KGB) confirmou que
está com sua atenção voltada para este domínio, afirmando em abril que os
correios eletrônicos Gmail e Hotmail e o sistema de telefonia Skype representam
uma ameaça para a segurança do país por causa de sua criptografia.
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