Ex-prefeito carioca diz que aliança entre DEM e PR
é certa e foi selada ‘em função da derrota do PMDB’
Flávia Salme
“O casal já
passou a lua de mel, está vivendo junto, casado, e o filho vai nascer”,
responde Cesar Maia sobre a possível aliança entre o DEM e o PR, do
ex-governador Anthony Garotinho, pela disputa da Prefeitura do Rio em 2012. “A
nossa convergência é em função da derrota do PMDB”, esclarece. “Eduardo Paes
corre o risco de nem ir para o segundo turno”, diz confiante.

Foto: Divulgação
Cesar
sobre possível coligação com PR: 'A nossa convergência é em função da derrota
do PMDB'
Ex-prefeito
que comandou a capital fluminense por 16 anos (incluindo o governo de Luís
Paulo Conde, a quem fez seu sucessor e depois rompeu), Cesar amargou o quarto lugar na
disputa do Senado no ano passado.
Perdeu para
Marcelo Crivella (PRB) e Lindberg Farias (PT), e ficou atrás do ex-presidente
da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani (PMDB). “Minha candidatura não
tinha segundo voto, o Marcelo Cerqueira (do PPS, com quem estava coligado)
não tinha voto nenhum. O Picciani cresceu com o Lindberg e perdeu por causa do
Garotinho, que falou que sua prioridade era derrubá-lo. Mas pode ser que o
eleitor tenha cansado de mim”, avalia.
A última
candidata à prefeitura que tentou emplacar, a ex-deputada federal Solange
Amaral, ficou em sexto lugar, com 3,92% dos votos (128,5) no pleito de 2008.
Dois anos antes, na disputa pelo governo do Rio, em 2006, apoiou a ex-deputada
federal Denise Frossard (PPS) e também saiu derrotado. Para o governador do
Rio, Sérgio Cabral (PMDB).
Agora, Cesar acredita que vai ser diferente. O
pré-candidato a prefeito do partido que lidera é seu filho, o deputado federal Rodrigo Maia. A provável vice, Clarissa Garotinho,
filha do casal de ex-governadores Rosinha e Garotinho.

Foto: Divulgação
Cesar
Maia e seu filho, o deputado federal Rodrigo
Maia
Os termos
que favorecem o acordo, segundo Cesar, são simples: “Há interesse mútuo”,
resume. “A Prefeitura de Campos é estratégica para o PMDB e para o PR (a ex-governadora Rosinha, mulher de Garotinho, é prefeita da cidade).
É muito poderosa, recebe mais de R$ 1 bilhão de royalties. E tem (a eleição de)2014,
o Garotinho é o grande adversário do PMDB no interior do estado. Por isso,
Campos é tão importante. E lá o DEM não tem candidato, mas tem tempo de TV, o
que é bom para Garotinho e para o PR ”, esclarece.
Cesar
afirma que em troca o DEM
pensa em contar com o tempo de TV do PR no Rio. “O Garotinho é uma liderança
forte, com 170 mil votos na capital no ano passado (quando se elegeu deputado
federal com mais de 694.862 votos em todo estado), e traz o aval do
eleitor evangélico e de um eleitor mais popular que vota muito
conjunturalmente”, diz.
A seguir,
Cesar Maia fala dos preparativos para voltar à vida legislativa da cidade do
Rio de Janeiro, onde é pré-candidato a vereador. “Seu eu for eleito teremos um
jogo político de alto nível. Hoje o que se tem (na Câmara Municipal) é uma eterna
adesão”, esnoba.
iG: Há resistências no DEM e no
PR a uma chapa do deputado federal Rodrigo
Maia e a deputada estadual Clarissa Garotinho à Prefeitura do Rio. O acordo
está fechado?
Cesar Maia: O
casal já passou a lua de mel, já está vivendo junto, casado, e o filho vai
nascer. Agora, política no Brasil, você jurar por Deus... Mas não há nada que
nos leve a ter qualquer desconfiança de que esse acordo não esteja consolidado.
E por quê? Porque há interesse mútuo.
iG: Não há conflitos entre as
legendas?
Cesar Maia: O
Rodrigo e o Garotinho foram mapeando
o Estado e vendo que em municípios grandes, onde os dois partidos têm tempo de
televisão, não há nenhum conflito que não permita ceder o tempo e o comando da
chapa para o outro. Campos fica com o PR; Rio de Janeiro, com o DEM; São
Gonçalo, PR; Nova Iguaçu, DEM; Volta Redonda, PR; Maricá, DEM. Em municípios
pequenos, cada caso é um caso. Se for possível estar junto, excelente, mas não
há obrigatoriedade. Está tudo mais ou menos arrumado. Falta um ponto aqui e
ali.

O
deputado federal Anthony Garotinho e sua filha, Clarissa, deputada estadual
pelo PR e possível candidata a vice em chapa com Rodrigo Maia
iG: Os eleitores do DEM e do PR
não podem estranhar esse acordo?
Cesar Maia: Você
faz coligações por duas razões: uma é a convergência no tempo, que é o caso que
a gente tem com o PSDB nacionalmente. Em campanha presidencial estivemos juntos
sempre. A outra é quando forças políticas se opõem a uma terceira que está no
governo e entendem como prioritária a derrota dessa força. Foi o que aproximou
o PR do DEM. A nossa convergência é em função da derrota do PMDB.
iG: Não temem possíveis perdas
de votos?
Cesar Maia: Alguma
perda na zona sul, mas essa perda não vai para o Eduardo (Paes, prefeito do Rio que
tentará a reeleição pelo PMDB), vai para o Freixo (deputado Marcelo Freixo, PSOL,
apontado como pré-candidato da legenda à sucessão municipal), que é
forte na região. Então, onde a gente perde, não perde para quem está no
governo, não perde para o PMDB. O Eduardo tem cometido erros que são fatais no
Rio de Janeiro, como, por exemplo, perseguir servidor público. O segundo erro é
confundir lei e ordem com repressão aos pobres, que gera uma rejeição muito
grande na área popular. O terceiro é privatizar educação e saúde.
iG: O prefeito Eduardo Paes
entrou na vida pública como afilhado político do senhor. Ele tornou-se um rival
ou as suas artilharias são apenas contra o PMDB?
Cesar Maia: O
Eduardo quando era do DEM (PFL à época) achava que o Rodrigo
(Maia) roubava o espaço dele na legenda. Foi para o
PSDB, mas viu no PMDB opção para crescer, virou prefeito. Em relação à carreira
política não acho que tenha agido errado. Mas como prefeito erra muito. Como
disse, persegue servidores, privatiza educação e saúde. Mesmo com a boa vontade
da mídia ele está com uma taxa de rejeição de 25% (segundo pesquisa de opinião
encomendada pelo DEM há cerca de um mês). Por enquanto, ele está
bem porque está surfando sozinho. Quando os outros candidatos aparecerem, ele
cai.
iG: O governador Sérgio Cabral
(PMDB) foi reeleito no primeiro turno com mais de 60% dos votos. Ele não será
um forte cabo eleitoral do prefeito Eduardo Paes?
Cesar Maia: A
eleição do ano que vem será competitiva, muito diferente de 2010, quando o Lula
estava santificado e isso ajudou o Cabral. Numa eleição municipal, a influência
federal é menor. O Cabral sofreu um forte prejuízo moral com a queda do helicóptero na Bahia e a crise dos bombeiros,
as pesquisas mostram. Foi seu governo que piorou muito? Não, o governo do Sério
Cabral é ruim desde sempre, as pessoas avaliavam bem em função de publicidade,
UPA, essas coisas que não funcionam, mas geram um destaque. O que mudou? O
impacto do boca a boca em relação a esses casos que citei. E as pessoas que
fazem da sua parceria um elemento de propaganda, como Paes e Cabral com essa
história de “estamos juntos (aperta as mãos, em referência ao slogan da campanha para a
reeleição do governador Sérgio Cabral em 2010), estamos juntos (simula um abraço)",
se comprometem. Na hora que (uma crise) pega uma parte a outra também é atingida.
iG: O deputado federal Anthony
Garotinho já manifestou vontade de disputar o governo do Rio em 2014. O DEM irá
apoiá-lo?
Cesar Maia: Não
se discute 2014 na nossa aliança com o PR. Está completamente fora de
discussão.
iG: Por quê? O senhor pode vir
candidato ao governo do Estado em 2014?
Cesar Maia: Posso.
iG : Essa possibilidade não
ameaça a aliança de 2012? Se Rodrigo
e Clarissa forem eleitos, é natural que cada um apoie o candidato de suas
respectivas legendas em 2014...
Cesar Maia: Às
vezes é bom que os dois partidos tenham candidatos. O (senador) Lindberg é
um candidato forte do PT, que faz muito bem a campanha eleitoral. A especialidade
dele é fazer campanha. O (vice-governador Luiz Fernando) Pezão vem com a máquina
do PMDB. Então, muitas vezes interessa para o Garotinho, que é favoritíssimo no
interior e na região metropolitana, ter uma eleição espalhada para haver
imprevisibilidade de a respeito de quem vai para o segundo turno. Pode
interessar para ele, pode interessar a nós.

Foto: DivulgaçãoAmpliar
De aliados a rivais: Cesar diz que PSD, partido fundado pelo
prefeito de São Paulo, Gil berto
Kassab, após deixar o DEM, 'é o baixo clero do governo'
iG: O senhor sairá candidato a
vereador. É para dar sobrevida ao DEM na capital fluminense, o senhor será o
puxador de votos? Muitos integrantes da legenda migraram para o PSD...
Cesar Maia: A
grande perda é sempre o potencial eleitoral de campanha majoritária, e isso nós
não tivemos. Por exemplo, a (vereadora) Rosa Fernandes me procurou e disse que o
tipo de representação comunitária que ela faz há mais de 30 anos depende de
estar junto ao governo. A Rosa tem muito voto, é muito forte e muito boa. É
interesse do prefeito tê-la na base de apoio puxando voto? Claro. Agora, não é
perda política. Tivemos, sim, perda de votos na Câmara. O deputado federal
Arolde de Oliveira foi para o PSD. Apesar de considerá-lo uma grande figura,
não foi perda. A liderança evangélica que ele representava o Garotinho, que faz
composição com a gente, tem.
iG: E tempo de TV e fundo
partidário?
Cesar Maia: Só
vamos saber em 2014. Se o PSD eleger bancada maior do que a nossa eles terão um
tempo de TV maior do que a gente. Mas, do ponto de vista dos deputados
federais, o PSD é o baixo clero do governo. Tenho dúvidas sobre o sucesso deles
em 2014, porque não têm nomes expressivos. No Senado ainda tem a Kátia
Abreu...Então, o que eles vão fazer em 2014? Vamos esperar. Até lá, o tempo de
televisão é nosso, o fundo partidário é nosso, a estrutura do Congresso é nossa.
Comentários