Fábio Gonçalves / Ag. O Dia

Crianças da Mangueira recebem ex-tenista
Gustavo Kuerten
Mariana Costa
Uma análise sobre a configuração racial na
cidade do Rio de Janeiro mostra forte concentração de moradores que se declaram
pretos ou pardos nos bairros mais pobres e com o maior número de favelas,
segundo apontam dados do Censo 2010, divulgado nesta semana pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O R7 calculou a soma dos habitantes dos dez
bairros mais pobres do Rio e o percentual de brancos, pretos, pardos, amarelos
e indígenas sobre o total dessa população. Segundo esse cálculo, 63% dos
moradores das localidades com menor renda média se declararam pretos ou pardos.
Os bairros que têm o maior número de negros são Mangueira (zona norte), Cidade
de Deus (zona oeste), Jacarezinho (zona norte), Vaz Lobo (zona norte), Sampaio
(zona norte), Gericinó (zona oeste), Costa Barros (zona norte), Santo Cristo
(centro), Parada de Lucas (zona norte), Vigário Geral (zona norte) e Grumari
(zona oeste), nessa ordem.
Lagoa: 1,5% se declaram pretos
Enquanto na Mangueira, que aparece no topo do ranking, quase 5.000 moradores se
declararam pretos, o que equivale a 28% da população total da comunidade,
na outra ponta, a Lagoa Rodrigo
de Freitas, na zona sul, tem apenas 323 pretos, o que corresponde
a 1,5% do total de moradores.
A Lagoa também é o bairro com a maior renda per capita do Rio. Lá, cada morador
tem rendimento médio de R$ 6.160,04. Enquanto isso, na Mangueira, a renda per
capita não chega a R$ 500. Ou seja, os bairros que concentram a renda mais alta
do Rio também são aqueles que têm o maior número de pessoas que se declaram
brancas.
Barra (zona oeste), Copacabana (zona sul),
Leblon (zona sul), Ipanema (zona sul), Lagoa, Botafogo (zona sul), Tijuca (zona
norte) e Flamengo (zona sul) são os bairros que têm o maior número de pessoas
que ganham mais de 30 salários-mínimos (R$ 16.350), a grande maioria
branca. Na Lagoa, por exemplo, há apenas seis cidadãos que se declararam pretos
e que estão nessa faixa de renda.
Acari, Vista Alegre, Alemão e Vigário Geral, todos bairros da zona norte pobres
e com favelas, têm apenas uma pessoa com rendimento de R$ 16.350 - em todos os
casos, são brancos.
O enorme abismo observado na desigualdade
racial e de renda no Rio também se reflete em outros indicadores do censo, como
a mortes de jovens entre 15 e 24 anos. Enquanto na Lagoa, houve apenas uma
morte no grupo de moradores nessa faixa etária, no complexo de favelas da Maré
(zona norte), foram 80 jovens mortos ao longo de 2010.
O número de óbitos entre os jovens – a grande maioria do sexo masculino – nos
dez bairros mais pobres do Rio é bem maior do que nos dez bairros mais ricos:
217 contra 17. Foi a primeira vez que os recenseadores do IBGE investigaram o
número de mortes em cada domicílio.
Comentários