Produtores do Serra Sons, em Lumiar, fogem da cidade,
cancelam o evento e revoltam o público
Jorge Lourenço e Paulo Marcio Vaz

O festival de música popular Serra Sons, realizado em
Lumiar, distrito de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, terminou em decepção.
O evento, cuja programação incluía Lulu Santos, Zeca Baleiro, Alceu Valença e
marcaria o reencontro de Milton Nascimento com o Clube da Esquina foi cancelado
durante sua realização, e revoltou o público. Na madrugada de sábado para
domingo, após o segundo dia de shows - o festival começou na sexta-feira, e
terminaria na terça - os produtores do festival sumiram da cidade, anunciaram o
cancelamento dos espetáculos restantes e deixaram várias contas a pagar, de
acordo com a prefeitura local.

Segundo a prefeitura de Nova
Friburgo, após os dois primeiros dias de show, a subsecretaria de Guarda
Municipal e Posturas já tinha lavrado autos de infração totalizando mais
de R$ 200 mil reais pelo não cumprimento das condições impostas pelo órgão para
a realização do evento, entre elas, o limite de horário para o término dos
shows.
Decepcionado ao receber a notícia
sobre o cancelamento, o público foi instruído pelos PMs a registrar queixa na
delegacia local contra a produção do Serra Sons.
Comerciantes chegaram a pagar R$ 4
mil para montar estandes de venda de comida e bebida dentro do evento, e
funcionários que trabalharam na montagem da estrutura ficaram sem receber.
"A orientação para prestar
queixa procede e foi uma orientação nossa mesmo", explica André Luís
Santos, subsecretário de Guarda Municipal e Posturas de Nova Friburgo.
"Até porque é a via legal em situação desse tipo. Essas pessoas adquiriram
os ingressos (R$ 50 por dia) e se programaram para ficar na cidade por vários
dias. Ao meu ver, e também do delegado que está recebendo as queixas, isso pode
ser classificado como estelionato".
Após a fuga de Lumiar, o produtor do
evento, Anderson Pomar, se manifestou à distância, alegando às autoridades que
o fracasso ocorreu por uma onda de ingressos falsos. Ele garante que, apesar do
público de 1.500 pessoas, o show de Lulu Santos vendeu oficialmente apenas 11
bilhetes. Pomar também teria deixado a cidade, segundo ele, com medo de ameaças
que teria recebido do público.
No rastro do Serra Sons, o que não
faltou foi revolta. Comerciantes que alugaram pontos próximos ao evento ainda
contabilizam os prejuízos. O dono do campo de futebol usado como palco também
não recebeu os R$ 10 mil destinados ao aluguel da estrutura. Até os
funcionários que ajudaram a desmontar a estrutura do evento no domingo foram
prestar queixa, já que não receberam o combinado com a produção.
"Só não aconteceu uma confusão
de grandes proporções aqui porque era um público mais velho, com a cabeça mais
tranquila. Não registramos qualquer ocorrência de violência. Os consumidores
ficaram revoltados, mas se comportaram muito bem", elogia o subsecretário
André Luís Santos.
A professora Tânia Souza, que aproveitou
o feriado prolongado para ir ao festival, não escondeu sua decepção com o
evento. No entanto, ela não prestou queixa na delegacia porque não tinha
expectativa de ver seu dinheiro de volta.
"Desde o começo, tudo foi muito
estranho. O show do Lulu Santos estava muito vazio e começamos a ficar sabendo
da confusão durante o show do Alceu Valença. O problema é que a própria
produção do evento não nos passava nada, ficávamos sabendo tudo através de
boatos, que nem sempre se mostravam verdadeiros", conta Tânia.
Para algumas pessoas, que foram a
Lumiar para acompanhar todos os dias do evento, o prejuízo chegou a mais de R$
500. O professor Thiago Rodrigues da Silva, também descrente em qualquer
reembolso, viajou apenas para acompanhar o show de Milton Nascimento.
"Gastei R$ 170 só com
hospedagem e ingresso, mas minhas perdas foram pequenas em relação a algumas
pessoas que conheci. Teve gente que veio de outros estados para acompanhar aos
shows e está perplexo com o que está acontecendo. Todos estão indo para a delegacia
revoltados. Não recebemos qualquer explicação. Levei um balão firme nessa
brincadeira", explica Thiago.
A completa falta de informação fez
com que vários rumores se espalhassem rapidamente pela cidade. Sem qualquer
confirmação da organização, comentava-se que o produtor Anderson Pomar fora
vítima de um AVC durante o festival, o que teria ocasionado a confusão. Só na
manhã desta segunda-feira algumas pessoas tiveram acesso às explicações
oficiais, ainda pouco convincentes.
"Não é possível acreditar nessa
história de ingressos falsificados", lamenta a professora Nathália Topini.
"Todo mundo comprou pela Saraiva e pela Fenac, não tinha como ser
falsificado. Na casa onde eu estava hospedada, tinha gente de outros estados.
Tem gente chorando aqui na minha frente. É revoltante".
JB online
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