
Entidade que rege o futebol no mundo vai apurar acusações
de Gutemberg de Paula Fonseca
ZURIQUE - A Fifa investiga
a manipulação de resultados no futebol e admite que vai apurar as denúncias
feitas pelo ex-árbitro Gutemberg de Paula Fonseca,
que acusa o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Sérgio Corrêa, de corrupção.
Sérgio Neves/AE - 04/09/2011
Gutemberg Fonseca denunciou Sérgio Corrêa, da CBF
O esforço faz parte de uma operação mundial que tem o
objetivo de lutar contra o crime organizado e apostas ilegais que, segundo os
especialistas da entidade, movimentam US$ 500 bilhões (R$ 925 bilhões) por ano,
valor superior ao PIB de muitos países. Há poucos dias, em entrevista à Rádio Jovem
Pan, além de acusar o chefe dos árbitros da CBF, Fonseca insinuou que teria recebido
ordens para beneficiar o Corinthians no Campeonato Brasileiro de
2010. "Estamos interessados em saber mais sobre essa denúncia",
indicou o chefe de segurança da Fifa, Chris Eaton.
Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
Segundo ele, juízes têm sido alvo de organizações criminosas
em todo o mundo. A Fifa mandou nesta semana um de seus agentes ao Brasil.
Confirma também que investigações conduzidas na Itália e na Argentina apontam
para o envolvimento de apostas ilegais no Brasil, além de outros crimes que
envolvem jogadores e árbitros. As informações se referem a jogos da Segunda
Divisão dos campeonatos nacionais e locais. Mas a entidade admite que conta com
suspeitas sobre jogos na Série A.
Para os especialistas em segurança da Fifa ,
não há dúvidas de que grupos criminosos estariam operando na rica do Sul, entre
eles asiáticos envolvidos em apostas ilegais. Uma das provas seria o documento
escrito a mão por um dos criminosos, já preso, o qual mostra que, em outubro de
2010, um amistoso entre Bolívia e Venezuela foi manipulado. Mas as
investigações no Brasil também estariam ganhando proporções importantes,
principalmente diante da Copa do Mundo. "Há muito dinheiro no futebol e os
criminosos querem esse dinheiro", disse Eaton, que montou escritórios na
Colômbia, Jordânia e Indonésia.
CRIME
Documentos revelados ontem pela Fifa escancaram o
tamanho da infiltração do crime organizado no futebol mundial. Os contratos
publicados incluem entendimentos entre criminosos e federações nacionais que
estabelecem jogos com resultados acertados para manipular apostas mundiais.
"O crime organizado desembarcou com força no futebol", disse Eaton.
Em contrato revelado pela Fifa, a empresa Footy Media, com
sede em Londres, fechou acordo com uma federação nacional para a organização de
amistosos com resultados já combinados. No contrato era estabelecido que
"não haveria cobertura de televisão" justamente para que se evitasse
polêmicas.
Pelos acordos, os criminosos estabelecem até número de gols
numa partida e deixam claro aos presidentes de federações que receberiam parte
dos lucros. Em uma das mensagens interceptadas, a empresa do criminoso Perumal
Wilson garantia que pagaria US$ 10 mil (R$ 18,5 mil) aos cartolas locais para
facilitar a realização de um jogo. Em outro e-mail, de 2008, US$ 100 mil (R$
185 mil) seriam dados para um clube em troca de acordo sobre o placar de uma
partida da Liga dos Campeões da África. "Queremos dois gols em cada metade
do jogo e vocês podem fazer mais um depois do quarto gol", dizia o texto
com as instruções.
Na mesma mensagem, o criminoso afirma que poderia
influenciar outras partidas da Liga dos Campeões, garantindo a classificação do
time em negociação para a próxima fase, prometendo mais US$ 500 mil (R$ 925
mil). O mesmo Wilson chegou a fechar acordos com federações, fornecendo
árbitros para garantir resultados em amistosos. Já na prisão, onde cumpre pena
de dois anos, Perumal escreveu a punho seu testemunho e admite que chegou a
controlar uma liga nacional mais que a federação local.
Mas insiste que foi sua atuação que fez melhorar a situação
dos jogadores que viviam na pobreza. Ele compara abertamente jogadores e
cartolas corruptos a "prostitutas que vão com quem paga mais". Em
outro documento obtido pela Justiça da Finlândia, o criminoso alerta que
federações nacionais estão "quebradas" e ávidas por receber dinheiro,
mesmo que seja sujo.
PROTEÇÃO
Mas o próprio criminoso alerta: "Eu sou peixe pequeno.
Existem peixes muito maiores no mercado". Enquanto a Fifa insiste que o
problema no futebol está nas casas de apostas ilegais espalhadas pelo mundo,
críticos apontam que o maior problema está dentro da própria casa do futebol. A
entidade não divulga o nome das associações nacionais envolvidas nos acordos
com os grupos criminosos e nem cogita punições aos cartolas. As cartas e
e-mails revelam que tais criminosos atuaram com o apoio dos dirigentes de
federações. Jogadores e árbitros que teriam sido alvo de subornos admitem
não ter a quem recorrer, uma vez que os próprios dirigentes estariam
envolvidos.
SEM MORAL
Wilson chega a alertar que, se a própria Fifa está atolada
em escândalos de corrupção nas mais altas esferas, o problema não está apenas
na base do esporte. Para 2012,
a Fifa promete criar um disque-denúncia e um serviço de
proteção a quem denunciar a corrupção ou apostas ilegais pelo mundo. "Será
por meio de jogadores que vamos desmascarar criminosos", completou Eaton.
O Estadão
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