
Por Rui Martins, de
Genebra
Foto: O ex-dirigente do banco central suíço com a esposa que o
levou à queda.
Nem sempre as mulheres precisam
exercer cargos de direção, só sua presença pode provocar descontrole como no
ex-diretor do FMI e agora no presidente do Banco Nacional Suíço.
Philipp Hildebrand foi mais uma vítima do charme feminino. Só lhe restava mesmo
apanhar seus papéis sobre a mesa, colocar na pasta de ex-presidente do Banco Nacional Suíçoe,
sem tremer, sem deixar de sorrir, deixar sua sala, tomar o elevador, sair na
rua e se tornar um cidadão comum, rico é claro, mas sem a auréola do poder.
Quando,
algumas horas atrás, entrara na sala de imprensa, repleta, flashes espoucando e
câmeras gravando, chamou a atenção seu porte de atleta. Sem dúvida o mais
elegante dos banqueiros, alto, magro, esportista, nenhum grama excedendo no
peso, quando seus colegas sedentários têm geralmente um excesso de gordura
proporcional à riqueza obtida nas especulações e investimentos com ventre
parecendo esconder uma sacola de dinheiro.
O que
estaria pensando Hildebrand, já de costas para a glória, enquanto ressoavam
seus passos de homem decidido, competente e prepotente ?
Provavelmente
na insistência de sua esposa Kashya em comprar 500 mil dólares, aproveitando a
queda da moeda americana naquele mês de agosto, do ano passado. De nada
adiantou ele argumentar não poder especular, em razão do seu cargo de direção
do banco central suíço. Kashya sabia que dois dias depois, Hildebrand iria
desencadear uma ação, no mercado de divisas, para diminuir a força do franco
suíço face ao euro, isso em defesa das exportações suíças, e o dólar seria
melhor cotado.
Em
outubro, a ação do Banco Nacional Suíço,
embora tivesse custado alguns bilhões de francos, deu resultado – o franco
suíço foi estabilizado na cotação de 1,20 Euro e se evitou a supervalorização e
a equiparação do franco com o euro. As empresas suíças exportadoras respiraram
aliviadas, as exportações recomeçaram.
Kashya
Hildebrand, nascida no Paquistão, filha de pai paquistanês e mãe americana, com
estudos feitos em Boston e uma carreira de trader em Nova Iorque, onde conheceu
Philipp, viu que a política monetária do marido no BNH tinha dado resultado e
reforçado o dólar.
Era a
hora de trocar seus 500 mil dólares em francos suíços, o que lhe valeu um lucro
de 60 mil francos. Casada com um financista jovem, rico e em plena ascenção,
ela não precisava desse dinheiro. Mas o que fazer quando a especulação se
tornou parte de sua existência ?
Tudo
teria se passado sem problema, não fosse o olhar indiscreto de um informático
do Banco Sarasin, onde o casal tinha sua fortuna. Desconfiando se tratar de um
caso típico de « delito de iniciado » ou jogar na bolsa tendo
informações seguras, fotografou a tela do computador, onde havia a operação, e
levou a um advogado, amigo do chefe do partido de extrema-direita, Christoph
Blocher, inimigo jurado de Hildebrand.
A
informação de delito de iniciado, pela esposa do presidente do Banco Nacional
Suíço, foi levada ao governo e acabou caindo na imprensa. Três semanas de
incertezas, desmentidos, tentativas de diminuir a importância do delito, até
ocorrer o pedido de demissão pelo próprio Philipp Hildebrand.
O caso
lembra outro, em situações totalmente diversas, mas envolvendo igualmente um
importante dirigente das finanças. Dominique Strauss-Khan, em plena glória e
candidato imbatável à presidência da França, tudo perdeu por ter sucumbido ao
desejo sexual por uma camareira africana.
Tentando
se justificar, nos angustiosos dias precedendo sua demissão, Philipp Hildebrand
deixara escapar uma frase, logo apropriada pela imprensa – « minha esposa
é uma mulher de caráter forte ». Imagina-se o banqueiro, jovem ambicioso,
autoritário entre seus colegas e com seus subordinados, aceitando correr o
risco de tudo perder, diante da exigência de sua esposa pequena, magra e
voluntariosa.
Justamente,
ele, Hildebrand, que chegara a contatar alguns colegas banqueiros para sondar a
possibilidade de ocupar o lugar deixado vago por DSK, profissionalmente
nocauteado por uma camareira de caráter forte ou interessada em transformar em
dólares uma violação ou uma relação sexual consentida. (Publicado originalmente no Direto da Redação).
Rui Martins,
correspondente em Genebra.
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