
Edite
Damasceno, mãe de Gambá, acende oito velas no local onde o filho foi enterrado
como indigente, no Cemitério de Santa Cruz, e pede para encontrá-lo nos seus
sonhos Foto: Guilherme Pinto / Extra
Herculano
Barreto Filho
O dançarino conhecido como o Rei das Batalhas de
Passinhos de Funk pode ter sido morto por ter dançado com a mulher errada no
baile do réveillon da Favela da Mandela, em Manguinhos. O assassinato de
Gualter Damasceno Rocha, o Gambá, de 22 anos, teria sido motivado por uma crise
de ciúme do traficante Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o Marcelo Piloto,
chefão do tráfico local, depois de ver a namorada dançando com Gambá.
A informação foi passada por moradores da Mandela
ao Disque-Denúncia (2253-1177), que divulgou um cartaz pedindo à população que
ajude a polícia a esclarecer o crime. A hipótese está sendo analisada pela
Divisão de Homicídios (DH), que investiga o caso. O corpo de Gambá foi
encontrado depois do baile, na manhã de 1º de janeiro, na Rua Pesqueira, em
Bonsucesso.
Ele estava com hematomas espalhados pelo corpo, sem
camisa, sem dois cordões de prata e sem R$ 200 em dinheiro, que tinha levado
para o baile. Gambá foi enterrado como indigente no Cemitério de Santa Cruz na
última quinta-feira, quatro dias depois da sua morte. O IML dá prazo de até
três dias para que o cadáver seja identificado por um familiar. Depois disso, o
corpo é enterrado como indigente.
Imagens captadas por câmeras de vigilância próximo
ao local do crime podem ajudar a polícia a esclarecer o crime. Pela manhã, a
família foi ao IML para registrá-lo como vítima do homicídio, ter acesso aos
laudos e ao atestado de óbito. O dançarino foi espancado até a morte depois de
sair do baile. Entretanto, a causa da morte só deve ser divulgada num prazo de
30 dias, após exames complementares.
Gambá era o terceiro dos quatro filhos do servente
de pedreiro José Maria Rocha e da cozinheira Edite Damasceno. Todos nasceram em Bicas, Minas Gerais ,
mas foram criados, desde a adolescência, no Rio. Os irmãos moram na Vila
Joaniza, na Ilha do Governador, onde Gambá ditava a moda para as crianças, por
causa das suas roupas de marca.
Aos sábados, tinha presença confirmada nos bailes
da Mandela, onde virou uma espécie de celebridade. Quando chegava, costumava
ouvir: “olha o rapaz do passinho que apareceu na televisão”.
Mãe quer ver filho em sonho
Quando se aproximou da cova rasa 293, no Cemitério
de Santa Cruz, ontem à tarde, a cozinheira Edite Damasceno nem se importou com
a areia em volta ao local onde o filho estava entre os 18 enterrados como
indigentes.
Ela se ajoelhou, sujando o vestido branco de terra,
e colocou as oito velas. Enquanto riscava cada palito de fósforo, falava
baixinho, apertando os olhos. Lembrava do filho de 22 anos, que ainda chama de
“menino”. Na sua cabeça, passavam trechos da história do garoto, que aprendeu a
dançar enquanto catava latinhas de cerveja em frente aos bailes.
E que ganhou o apelido de Gambá nos tempos em que
trabalhava como cobrador de van. Porque se negava a tomar banho frio em casa.
Não eram apenas palavras de despedida para o filho, que terá o corpo removido
de lá nos próximos dias, para ser enterrado “com dignidade”, como pede a mãe.
— Quero ver meu filho em sonho, para me despedir.
Edite levantou, devagar, olhou para a cruz e foi embora, abraçada no marido
José Maria Rocha, pai de Gambá.
E saiu do cemitério com a certeza de que ainda se
despediria do filho. Nos seus sonhos.
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