Casas rachadas, falta de segurança e de atendimento médico
são as reclamações
Cláudia Alcantara / R7
Cláudia Alcantara / R7

Pela rachadura na entrada da casa de Alcides Andrade dava para ver
o interior, em Três Vendas
Dois
meses e meio depois da cheia que inundou a localidade de Três Vendas, em Campos dos Goytacazes ,
no norte do Estado do Rio de Janeiro, o clima entre os moradores ainda é de
medo. No dia 5 de janeiro, 4.000 pessoas tiveram suas casas totalmente tomadas
pela água do rio Muriaé. Cerca de 2.000 deixaram o bairro.
A reportagem do R7 esteve nesta semana no local e ouviu dos moradores muita reclamação. Segundo eles, o bairro foi abandonado.
A reportagem do R7 esteve nesta semana no local e ouviu dos moradores muita reclamação. Segundo eles, o bairro foi abandonado.
A força da água abriu um buraco de quase 25 metros em um trecho da
BR-356, que liga o norte do Estado do Rio à zona da mata mineira. O nível do
rio subiu muito e alagou váriascidades das regiões norte e noroeste do Rio,
além da zona da mata mineira.
Em Três Vendas, casas ficaram submersas e moradores foram para
abrigos. Metade da população preferiu dormir nas lajes. Eles temiam que as casas
fossem saqueadas. A Polícia Militar (8º BPM) reforçou o policiamento na área, mas alguns
moradores afirmaram que houve saques. Nenhum roubo foi registrado à época.
Risco e medo
Alcides Pereira Andrade, de 87 anos, está com medo de ficar na
casa onde mora com a mulher e duas filhas.
- A Defesa Civil esteve aqui e disse que não tem perigo, mas aqui
[na parede da varanda da casa que dá para o quarto do casal] tinha uma
rachadura tão grande que dava para ver lá dentro. Eu consertei, coloquei
cimento. Daquele jeito não dava para ficar, né?
A água entrou na casa de Andrade com tanta força que destruiu
parte do muro na entrada do terreno. O morador substituiu o muro por tela de
arame.
Na casa de Maria Alves Coimbra, de 57 anos, as rachaduras também
são visíveis. Ela mora há 20 anos em Três Vendas e conta que, desta vez, estava
preparada para o pior.
- Em 2008, a
água chegou à minha cintura, quase não consegui salvar nada. Dessa vez,
levei algumas coisas para casa de um sobrinho, no início da rua, que mora no
segundo andar. Não deu para levar tudo, porque ele guardou os móveis de várias
pessoas. Já perdi quatro armários. Ainda não peguei o armário na casa dele,
porque preciso consertar os estragos feitos pela enchente.
Assim como Maria, outros moradores preferem continuar morando na
localidade, apesar do risco de novas enchentes. Outro exemplo é Júlio Silva, de
46 anos.
- Eu tenho medo sim. Estão reformando a estrada [BR-356], mas será
que agora ela vai ficar segura? A gente tem medo, mas acaba por se acostumar.
Risco a gente corre em qualquer lugar.
A dona de casa Cristina Martins, de 39 anos, se mudou para Três
Vendas há menos de um ano. Arrumou a casa toda, pintou, colocou piso novo. Veio
a cheia e o imóvel ficou todo sujo.
- Eu vim morar aqui sabendo que o local sofre com enchentes, mas
não esperava que fosse acontecer tão logo. Tive que voltar para a casa dos meus
pais. Quando voltamos, tivemos que pintar tudo de novo. Agora vou construir um
segundo andar.
A Prefeitura de Campos dos Goytacazes transferiu duas famílias que
recebiam o benefício do Aluguel Social para casas populares no bairro da Penha.
De acordo com o subcomandante da Defesa Civil, major Edson Peçanha, os imóveis
estavam em péssimas condições e foram derrubados pelos proprietários.
- Fizemos uma vistoria em todas as casas e só essas duas
apresentavam risco para os moradores.
Infraestrutura
A comerciante Eliane Quintela, de 39 anos, reclama da falta de
estrutura da localidade depois da enchente.
- O posto de saúde está funcionando em um ônibus. A limpeza
das ruas não está acontecendo e, até hoje, o esgoto não foi limpo.
A padaria de Eliane teve prejuízo de quase R$ 4.000 com a cheia.
Ela mora em uma casa de dois andares ao lado do estabelecimento. Por isso,
conseguiu salvar muita coisa. Mãe de um bebê de três meses, ela reclama do mesmo
problema.
- O posto de saúde está sem ginecologista, sem dentista. O
pediatra já faltou dois dias. O policiamento não existe. Nesta semana, teve um
tiroteio aqui e nada foi feito. Depois da cheia, ficamos abandonados.
Segundo o comandante da Polícia Militar em Campos, coronel Lúcio
Flávio Baracho, a corporação não tem efetivo que permita a criação de um DPO
(Destacamento de Policiamento Ostensivo), mas o patrulhamento é feito
constantemente. Ele pede à população que ligue para o 190 ou para o Disque-Denúncia,
(0xx22) 2723-1177.
A Secretaria de Saúde de Campos informou que a reforma do posto
será concluída em até 15 dias. Enquanto isso, a população será atendida pelo
ônibus.
De acordo com o secretário de Serviços Públicos, Zacarias
Albuquerque, uma limpeza já foi feita na localidade e a coleta acontece às
terças, quintas e sábados. Ele prometeu verificar se houve algum problema no
atendimento.

Maria Coimbra
perdeu quatro armários nas enchentes de Três Vendas; ela espera o conserto de
sua casa para então trazer os móveis que ficaram no segundo andar do imóvel do
sobrinho durante a cheia (foto: Cláudia Alcântara / R7)
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