OS GALOS
Na rude paisagem urbana
toda manhã é um complô de galos.
Na teia sutil de seus cantos,
descansa nossa vã Ave-Maria.
Os galos descantam o aconchego
dos lençóis
enquanto a vida nos acossa
impaciente.
Esta manhã já se vai tecendo
do tênue fio em prolongada
cantaria.
Um galo responde ( o outro
escande)
um pentagrama do desencontro.
E assim, na interminável rede
intermitente,
é preciso sabem quem primeiro
mente:
se eu, desperto em sonhos vãos,
se eles, que só cantam não.
A solidão nos oprime
em cada dobra da cama desfeita.
Na beira do cobertor a vida
espreita
enquanto os galos tramam
pleonasmos que se anunciam
na imensa concha vazia de mais
( de menos) um dia.
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