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Visão La Flora
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O que a expressão “Deus seja louvado” nas notas de real ensina sobre a tolerância religiosa – e o mau gosto
LUÍS ANTÔNIO GIRON

O Ministério Público Federal pede que a expressão “Deus seja
louvado” seja retirada das notas de real para garantir a liberdade religiosa. A
frase deve ou não sair das notas de real ou a discussão é inútil? Os
fundamentalistas cristão andam protestando em todo o país, exigindo que Deus
continue representado nas cédulas. Os politeístas, ateus e crentes em outras
seitas, além dos juristas e partidários da mentalidade politicamente correta,
querem a extinção imediata e sumária da frase, em nome da garantia da liberdade
religiosa em Estado laico. Misturar Deus e dinheiro é uma
barbaridade. Não importa o seu vínculo político, religioso e ideológico: Deus,
caso você creia nele, não precisa ser evocado por intermédio da manifestação
mais concreta do materialismo, uma cédula monetária. Além de a expressão
representar uma intromissão religiosa no âmbito do Estado, ela é uma espécie de
marca de atraso e de péssimo gosto. É uma questão ética e estética, além de
política. A expressão me faz lembrar aquelas igrejas que pregam valores cristão
e, ao mesmo tempo, sem o mínimo decoro, convertem Deus em moeda de troca –
ordenando em altos brados, durante os cultos, que os fiéis doem seu dízimo à
causa. No caso brasileiro, apesar de o país ter sido
fundado sob a cruz do catolicismo, não há outras motivações para estampar nas
notas a pregação monoteísta. Um estado laico obviamente não pode exprimir credo
religioso, mesmo que seja numa discreta inserção em cédulas de dinheiro. E não
há nem mesmo a tradição para evocar. O responsável pela inclusão do
critpocatecismo foi o presidente José Sarney. Em 1986, ele ordenou por decreto
que o Banco Central imprimisse a expressão nas notas da nova moeda, o cruzado,
que substituía o cruzeiro. As primeiras cédulas com a frase começaram a
circular em fevereiro de 1986 – momento em que a moeda nacional estava sofrendo
uma hiperdesvalorização. O cruzado acabou e a frase migrou primeiro para o
cruzeiro restaurado (de 1993
a 1994) e depois para o real, a partir de 1994. Será
que, em 27 anos de circulação, as notas conseguiram converter alguém? Duvido.
Dinheiro serve para ser trocado, não para emitir mensagens de fé. Se qualquer
forma, Sarney reclamou que excluir a frase das cédulas é "perda de
tempo". Então, porque a incluiu?
Eu confesso que nunca tinha notado a frase nas cédulas. Fui lê-la agora, em uma cédula de R$ 10. É repugnante. A inscrição ao lado da efígie da República me parece ainda mais tola que os símbolos maçônicos da cédula de um dólar americano – que trazem a pirâmide e o olho do Grande Arquiteto do Universo. Os americanos pelo menos têm a justificativa de que a maçonaria ajudou a libertar os Estados Unidos do domínio britânico em 1776. É tradição. Em
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