Técnica, no entanto, mantém o princípio de dar aparência desgastada a móveis
Na Mostra Artefacto, inaugurada há duas semanas no CasaShopping, uma mesa de centro de 2,20 metros de extensão chama atenção no espaço que representa o varandão de uma sala, assinado pelo decorador Edgard Octávio. De madeira, o móvel lembra um velho caixote branco, todo descascado, deixando a madeira à mostra em várias partes. Para Edgard, é o tipo de item bem vindo ao lar.
— Aquela casa com móveis todos novinhos, sem história, é muito impessoal. O legal desse é que é novo, mas com cara de usado — diz o decorador. — Dentro do estilo provençal, até hoje a pátina clássica tem seu espaço e pode deixar o ambiente muito elegante. E foi bem-sucedido no passado, muito copiado, né?
Foi uma época em que muita gente, de executivas a estudantes, matriculou-se em cursos para aprender a técnica. Na maioria das vezes, usava-se o branco como base e, por cima, uma camada de bege. Depois, era preciso “raspar” a superfície usando lixa, esponja, lã de aço ou simplesmente um paninho para borrar o bege e deixar o branco surgir.
A paisagista Sônia Infante faz parte da turma que se interessou pelo estilo, isso há mais de 20 anos. Primeiro, ela foi estudar a técnica da policromia, um processo de pintura mais complexo e demorado que utiliza diversas camadas de tinta e é muito usado em móveis coloniais, daqueles que costumam decorar casas de fazendas. A partir daí, ela passou para a pátina e, hoje, investe na versão mais moderna para colorir os móveis de sua loja, a Arteiro, em Itaipava. Nos fundos do estabelecimento, ela mantém um ateliê onde bota a mão na massa.
Uma das aquisições mais recentes da Arteiro é um arcaz de madeira de demolição que Sônia Infante cobriu com pátina, escolhendo como base o vermelho e, por cima, um azul arroxeado.
— Usei caco de vidro para ajudar a descascar a pintura — conta a paisagista.
A publicitária Lilli Kessler recorre muito ao canivete para chegar ao efeito. Na Le Modiste, sua loja-ateliê em Ipanema, o acabamento é o que mais tem “saído”, depois da laca. Lilli usa a pistola para aplicar tinta automotiva e abusa de combinações como azul com verde e preto com branco na hora de restaurar e colorir peças antigas. Pode encarecer o serviço entre 10% e 20%, e demorar até três semanas para ficar pronto.
Na versão moderna da técnica, abre-se uma paleta grande de tons. A tradicional cadeira Paris, com assento de palhinha e encosto em “X”, rejuvenesceu com um banho de pátina que mescla pigmentos fortes — novidade recém-chegada ao Studio Grabowsky, na galeria Cidade do Leblon. Assinado pelo designer holandês Joop Mooren, o banquinho da LZ Studio, em Ipanema, parece ter saído de uma obra, com pinceladas acidentais na madeira de demolição.
Deixar a madeira mais aparente, aliás, faz parte desse novo estilo. O revestimento chamado Paranaíta, da marca paulista Inti, é assim: uma espécie de mosaico de madeira, com nuances de verdes e marrons, vendido em filetes de 32,5cm x 32,5cm (representado aqui pela Ekko Revestimentos, no CasaShopping, e Chão de Barro, no Itanhangá). O bufê Kabini, do designer Pedro Mendes, é outro que privilegia a madeira. O desgaste é ditado pelas tintas que foram raspadas da parte da frente, com duas portas e duas gavetas. É da Way Design, no Rio Design Leblon.
Quem busca novidades lá fora para trazer para cá também tem se deparado com o patinado desgastado. À frente da Rug Hold, loja em São Cristóvão especializada em peças chinesas, Cláudia Carvalho percebe que na Ásia a pátina virou uma forma de transformar móveis produzidos em série em itens únicos, exclusivos e ao mesmo tempo descolados. Teresa Pellitteri, do Galpão, no CasaShopping, conta que, em Bali, a técnica foi uma solução encontrada por artesãos para disfarçar pedaços imperfeitos de madeira.
— Como o governo em Bali está regulando o corte de árvores por três anos, há uma certa dificuldade em encontrar toras grandes e homogêneas. Pintar os móveis da maneira mais tradicional deixa a parte feia em destaque. A pátina ajuda a disfarçar — conta.
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