Sobrepeso aumenta chance de doenças crônicas e reforçam necessidade de participação de toda a família para melhorar alimentação das crianças
Flávia Ayer
Quem vê Tássia Almeida, de 8 anos, toda empolgada preparando o suco de laranja com a mãe, Tânia, de 51, mal pode imaginar que há alguns meses ela nem chegava perto das frutas. O esperto Guilherme Azevedo, de 9, ainda faz cara feia para algumas delas, mas está disposto a tentar inserir verduras, frutas e cereais no cardápio, antes composto apenas por chocolate, biscoito, pão de queijo, pizza, arroz, feijão e angu. Tão novos, os dois já viram na balança e sentiram na pele os efeitos de um cotidiano distante de exercícios físicos e bem perto de alimentos gordurosos e calóricos, fatores que contribuem para que 30,8% dos estudantes de 5 a 15 anos da capital estejam de mal com a balança, segundo pesquisa desenvolvida na UFMG. Agora, Tássia e Guilherme estão dispostos a perder peso e ganhar saúde. A receita, ensinam especialistas, envolve toda a família.
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Tânia e a filha, Tássia, de 8 anos, já melhoraram os hábitos: sucos naturais fazem parte do dia a dia |
Referência técnica do grupo de Reeducação Infantil da Unimed-BH, a nutricionista Juliana Algarves reforça que a mudança depende de um envolvimento conjunto. “As crianças tendem a repetir o que os pais fazem, desde o alto consumo de comidas com gordura saturada, bebidas hipercalóricas e refeições fora de casa”, ressalta. A ausência no dia a dia também pode interferir. “Muitas vezes os pais compensam isso com benefícios na alimentação da criança, oferecendo doces e industrializados”, alerta. Mas os pequenos também têm um papel fundamental nesse processo. “Eles têm a responsabilidade de saber escolher”, diz. Caso contrário, as consequências dos maus hábitos podem chegar rápido. “A obesidade aumenta a chance de desenvolvimento de doenças crônicas, como problemas cardiovasculares e diabetes, maiores causas de mortalidade no país”, afirma Juliana.
O sinal de alerta de que algo não ia bem acendeu na casa de Úrsula Azevedo, de 38, quando o filho Guilherme, de 9, começou a se queixar das dores de cabeça sem fim durante as aulas, no Colégio Magnum. Com 1,34m e 37 quilos, ele era viciado em biscoito recheado e chocolate e acostumado a não tomar o café da manhã. Frutas e verduras passavam longe do prato do menino. “Ele estava gordinho e o pediatra disse para procurarmos um nutricionista”, conta Úrsula. A partir daí a história mudou. “Comecei a tomar vitamina de frutas e a minha dor de cabeça acabou”, conta Guilherme, que começou a fazer natação. O processo rumo à vida saudável não tem sido fácil, mas Úrsula está confiante. Agora, o menino até se mostra afeito a algumas frutas. “Achei banana regular, mas adorei morango”, revela Guilherme, com a meta de emagrecer quatro quilos.
Colesterol
Sob cuidados da mãe, Guilherme, de 9 anos, começou a comer frutas |
O nutrólogo e pediatra Joel Lamounier, professor das universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e São João del-Rei (UFSJ), conta que a conduta mais adequada é trabalhar a educação alimentar desde a gestação. “Sabemos que as alterações começam dentro do útero. O leite tem composição que varia com a dieta e com os sabor dos alimentos. Essa variedade no cardápio da mãe vai preparando o paladar do bebê para refeições saudáveis”, afirma o especialista.
Enquanto Isso...
...baleiros na mira De projeto
A Câmara Municipal de Belo Horizonte quer fechar o cerco a baleiros na porta de escolas públicas e particulares da capital. Projeto de lei que tramita em primeiro turno tenta proibir a presença de ambulantes para a venda de doces, balas, chicletes e produtos com alto teor de gordura e açúcares para os alunos. A proposta 811/2013 do texto, de autoria do vereador Joel Moreira (PTC), é complementar à lei estadual da Merenda Saudável, em vigor desde 2009, que baniu a venda de frituras, alimentos gordurosos e guloseimas em geral das cantinas escolares.
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