Segundo os dados do TSE, há mais de 548 mil candidatos registrados para disputar as eleições de 2020. Grande diferença em relação ao perfil do pleito de 2016 é o quesito de raça, já que a branca era mais comum há quatro anos.
Por Clara Velasco, G1
Homem, negro, casado, com 46 anos e ensino médio
completo. Esse é o perfil médio dos candidatos que disputam as eleições deste
ano.
Esta é a primeira vez desde 2014, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começou a coletar dados de raça, em que o candidato médio é negro. Nas eleições anteriores, a cor de pele mais comum era a branca. Para a análise, o G1 usou os dados das candidaturas divulgados pelo TSE. São, no total, mais de 548 mil candidatos registrados para participar das eleições deste ano.
Os números do TSE ainda podem ter alterações, com a atualização dos dados pelo órgão ou até com indeferimento e renúncia de candidatos.
De todas as candidaturas registradas, 49,9% são de
pessoas que se declararam pardas ou pretas. Juntos, pardos e pretos formam os
negros, segundo classificação do IBGE. Já os brancos representam 47,8% do
total. Além disso, 0,4% se declaram indígenas e outros 0,4%, amarelos. Não há
informação de raça de 1,6% dos registros.
A proporção de candidatos negros nas eleições deste ano é a maior já registrada pelo TSE. Além disso, é a primeira vez em que os brancos não são mais de 50% dos candidatos. Por isso, houve alteração do perfil médio dos candidatos de branco para negro.
Os especialistas afirmam que cada vez mais
brasileiros estão se declarando negros, o que acaba se refletindo nas
candidaturas.
“Os brasileiros estão ficando mais conscientes de
sua cor. (...) Quando os indivíduos recebem educação, eles podem se fortalecer
e abraçar identidades negras”, diz Andrew Janusz, professor-assistente do
departamento de ciência política da Universidade da Flórida.
Além disso, o professor de ciência política da UFMG
Cristiano Rodrigues afirma que, nos últimos anos, houve "vários movimentos
que levaram ao aumento das candidaturas negras". "Um deles é o efeito
Marielle. Ela se tornou um símbolo e tem motivado várias pessoas negras a
entrar na política."
Quanto às outras características, não houve muita
diferença em relação ao perfil médio dos candidatos das últimas eleições
municipais, em 2016. Os candidatos são predominantemente casados (51%), com
ensino médio completo (38%) e com uma média de 46 anos.
Além disso, a ocupação mais comum é a de
agricultor. Como há muitas ocupações registradas, porém, os dados são mais
pulverizados neste caso. Assim, mesmo sendo a mais comum, a profissão de
agricultor foi declarada por apenas 6,8% dos candidatos.
Em relação ao gênero, 67% são homens e 33% são
mulheres. O percentual feminino, inclusive, é muito próximo do mínimo
estabelecido em lei pela cota de candidatas mulheres que deve ser cumprida
pelos partidos, de 30%.
Também vale lembrar que, de acordo com o IBGE, as
mulheres correspondem a mais da metade dos brasileiros (52%).
Segundo Polianna Santos, professora da PUC Minas e diretora-presidente da Associação Visibilidade Feminina, mesmo com o percentual de candidatas mulheres baixo, as eleições deste ano trazem mudanças.
“A gente pode não identificar uma mudança
quantitativa, pois o percentual de candidatas mulheres continua em 30%, mas
podemos perceber uma mudança qualitativa de ter candidaturas reais, com
condições materiais, por conta da cota financeira”, diz.
Assim como a cota de candidatas mulheres nas listas dos partidos, a cota financeira reserva uma parte dos recursos para as candidaturas femininas.
Santos destaca, porém, que ainda há muitos
problemas estruturais e preconceitos contra a mulher na política.
“Existe uma questão cultural de achar que lugar de
mulher é dentro de casa, e não ocupando espaço de poder na política. Então ela
é cantada, menosprezada, objeto de chacota. Quando é eleita, falam da sua
roupa, do seu corpo”, afirma.
Perfil diferente a depender do cargo
O perfil dos candidatos, porém, muda
consideravelmente em alguns quesitos a depender do cargo disputado. Enquanto
que o perfil médio dos candidatos a vereador segue a média geral, os dos
candidatos a prefeito e vice-prefeito têm outros graus de instrução, ocupações
e raças.
Enquanto que a maior parte dos candidatos a
vereador é negra (51%), a maioria dos que concorrem a prefeito e a vice é
branca (63% e 59%, respectivamente).
Além disso, os candidatos a prefeito e vice têm a
escolaridade maior: o grau de instrução mais comum entre eles é o de superior
completo. Já entre os candidatos a vereador, o mais comum é ter o ensino médio
completo.
Outra diferença é a da ocupação: a mais comum entre
os candidatos ao Executivo municipal é a de empresário, enquanto que a de
agricultor tem um maior percentual entre os que concorrem ao Legislativo.
Há outros pontos que, mesmo sem mudar o perfil, são
diferentes entre os concorrentes. Por exemplo, há muito mais homens entre os
candidatos a prefeito (87%) que entre os candidatos a vereador (66%). Os
primeiros também são “mais” casados (68%) que os últimos (50%).
"O principal motivo por trás dessas diferenças
entre os dois, Executivo e Legislativo, é que, no Legislativo, os vereadores
têm mais assentos em disputa. Isso permite que o perfil dos candidatos seja
mais diversificado. Fica mais fácil de as pessoas serem eleitas", diz
Lucas Gelape, doutorando em ciência política na Universidade de São Paulo (USP).
O pesquisador também destaca que os perfis de
candidatos a prefeito e vice-prefeito são mais semelhante aos de deputados.
"São mais educados e com ocupações como as de
empresário e advogado. Vereador, não. Vereador mostra mais diversidade, até
mesmo mais proximidade com a população", afirma Gelape. "E, de fato,
o cargo de vereador costuma estar mais próximo das pessoas. Uma parte
significativa do trabalho dos vereadores é atender a população, falar com as
pessoas."
Gelape afirma que esta proximidade, ou mesmo
representatividade, é importante para a produção de políticas públicas e também
para a percepção do próprio eleitorado, que se percebe mais representado ou
não, a depender das características dos políticos.
Além disso, ele também diz que as diferenças dos
dados refletem o fato de que o cargo de vereador geralmente é o início da
carreira política de muitos.
"[Ser] vereador não é a única porta de entrada na política, mas é uma entrada importante. Esses dados refletem um pouco isso, de candidatos mais semelhantes à população, mostrando que essa porta de entrada parece de mais fácil acesso à população."
Fonte: G1
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